terça-feira, 1 de junho de 2021

O Potente Som Patente de Nelson: contra as Patentes, da CPI e da Vacina, eu vou pra Rua sambar!

 

Ilustração Cacinho


POR  VILA-ACENDEAMOR


“Todos nós estamos um pouquinho tristes por não ter desfile, mas foi melhor assim. Temos que estar todos vacinados para fazermos um grande carnaval em 2022” (Nelson Sargento, 12 de fevereiro de 2021, ao tomar a segunda dose da vacina).

Nelson não partiu. Não. Encantou-se em “Sinfonia Imortal”.

Como diria Luiz Antônio Simas, é no encantamento que surge o lenitivo pra seguir adiante. Contra as patentes das autoridades de plantão e as patentes das corporações de saúde, Sargento nos diz: “Alto, lá!”

“Sargento” foi a patente mais alta que desempenhou, segundo o Exército do Brasil.

No Palácio de Duque de Caxias, porém, o Nelson Mattos era o Coronel-Baluarte da Estação Primeira. A patente de Presidente de Honra sequer faz jus à Casa de Angenor.

Em razão da idade avançada, nem mesmo a segunda dose da vacina (tomada no último fevereiro) o salvou da foice da Indesejada das Gentes. Vacina não é dose de imortalidade. Que fique claro: é algo que ajuda a nossa saúde a combater o vírus — e as variantes —que aí estão a ameaçar nossas vidas.

O potente Som-Patente de Nelson nos leva além da última letra conhecida pela ciência. Polímata de todas as sabenças e saberes do Carnaval, Nelson diz o que todo suposto General deveria dizer a uma Comissão Parlamentar de Inquérito.

A declaração do Cidadão Sargento vale mais que muita desculpa de ocupante do Alvorada, ou que muito silêncio de ex-titular da Pasta da Saúde.

Nelson, ainda que em tom eufêmico, disse um pouco de toda a tristeza que, em razão da pandemia, também se abate sobre nós. Não bastassem as quase 455 mil vidas brasileiras que se despediram neste décimo quarto mês pandêmico, este primeiro ano sem Carnaval é difícil de engolir.

É um pouco das “vicissitudes” da nossa cultura que escorre pelos dedos. Em fevereiro de 2022? O Carnaval chegará...

Mas, pelo andar das declarações e, sobretudo, dos silêncios, a fala de Nelson tende, mesmo daqui a 9 meses, a calar fundo em nosso povo.

A maioria da população brasileira seguirá, até lá, sem vacina. Todos nós, uma vez mais — e pelo segundo ano consecutivo — sem Carnaval.

Em meio a essa “Sapucaí de Genocídios”, o nosso Samba “agoniza, mas não morre”!

No último sábado, 29 de maio de 2021, houve convocação geral para, civicamente, contestarmos a irresponsabilidade que aí está. Pelas ruas e avenidas no país, esse ainda é o grito entalado na garganta!

Recuso-me a, enquanto cidadão, discutir supostas prévias e estatísticas eleitorais, enquanto o Capitão da Morte seguir no poder.

Se não concorda comigo? Seja bem-vinde, seja bem-vinda, seja bem-vindo ao debate.

Não ficarei parado vendo gente que tem medo de debate e de prestar contas ao país dando uma de Che.

Respeitem os nossos revolucionários “Diários de Motocicleta”!

A última quinta, 27, foi um dia triste. Impossível negar isso. A Velha Guarda perdeu mais uma Gigante Verde-e-Rosa no seu Panteão.

Com a ironia que sempre poetizou o ritmo patente que alegra a alma, em vez dos chistes e chiliques da tal CPI, prefiro a Bela Companhia de meu “Parceiro de Ilusão”. Canta Sargento:


“Estou cansado de tanta mentira

Não dá mais pra segurar

Eu posso até sacrificar

A minha lira

Porém dos meus versos

Eu não vou abdicar


As vicissitudes dessa vida

Vão levando tudo de roldão

Não sou escravo nem senhor de causas perdidas

Nem parceiro da ilusão


Só encontro falsidade

Vou roendo dia-a-dia

A boca que eu beijava era a mesma que mentia

Tapar com o sol brilhante com a peneira da traição

É o modo mais constante

De fingir pro coração


Em busca da verdade

Tropecei na ingratidão

Meus versos são meu jeito de beber

Na emoção


Não há sinceridade

No olhar de um trapaceiro

Até na falsidade é melhor ser verdadeiro” 

(“Parceiro da Ilusão”, do Cidadão-Poeta Nelson Mattos, a lira de nosso Artista Sargento-Nelson).


No Céu, ouve-se a “Sinfonia Eterna”, de Nelson Sargento, brilha Presidente Eterno da minha Primeira Estação.

No último Sábado, fui com minha Máscara PFF-2 desfilar pelo direito de que a dita “Praça dos Três Poderes” volte a ser “DO POVO”!

Esse meu manifesto, “inocente, pé-no-chão”, é uma homenagem imorredoura ao “Hino dos Sambistas”, que nos atravessa, sem jamais ser atravessado:


“Samba,

Inocente, pé-no-chão,

A fidalguia do salão,

Te abraçou, te envolveu,

Mudaram toda a sua estrutura,

Te impuseram outra cultura,

E você não percebeu,

Mudaram toda a sua estrutura,

Te impuseram outra cultura,

E você não percebeu.


Samba,

Agoniza mas não morre,

Alguém sempre te socorre,

Antes do suspiro derradeiro.

Samba,

Negro, forte, destemido,

Foi duramente perseguido,

Na esquina, no botequim, no terreiro.”


Nesse enredo de ilusões-reais e de falsas-autoridades, “só a arte salva!”

De volta às ruas e às avenidas da vida, meu povo, a melhor imunização é a carnavalesca!

Contra as “Patentes”, da CPI e da Vacina, eu vou pra rua sambar, meu Presidente Sargento!

Levem sempre suas Máscaras!!! O Show tem de continuar!!!

domingo, 30 de maio de 2021

Do Sumaré ao Ipiranga: uma conversa sobre mudança de rumos

Imagem Mani Ceiba


 Por Luís Filipe Pereira


“Você vai pela Consolação, e depois pegar a Radial Leste?”, perguntei, querendo encontrar uma alternativa. Saindo da região da Doutor Arnaldo até o Ipiranga, no começo da noite, levaria aproximadamente uma hora. “Não… O aplicativo está me mandando atravessar a Paulista inteira, e ir por dentro da Vila Mariana. Tudo bem por você?”, perguntou o motorista. Aceitei e falamos brevemente sobre o trânsito. Em ponto morto, a conversa passou pela expectativa da vacina, a crise econômica provocada pela pandemia, falta de oportunidades, e - como esperado - chegou até a influência do Desgoverno Federal para o atual estado das coisas. “Acho que a culpa disso tudo é do presidente”, lancei, já pensando em reunir argumentos para uma tréplica. É comum em situações como essa ouvir como resposta um “Ah, mas a imprensa fala muita mentira” ou ainda “O problema dele é que é muito sincero, não tem meias palavras, as pessoas não entendem”. 


Mas não. Na fria noite de 20 de maio de 2021, o motorista de aplicativo concordou comigo. Incrédulo, ouvi um “Eu sinceramente espero que essa CPI dê em alguma coisa”. O carro agora passava em frente ao Masp. Até a Bernardino de Campos, já no Paraíso, meu interlocutor criticou a falta de articulação política para que a vacina fosse viabilizada mais cedo. “Se ele tem uma opinião pessoal contrária, era preferível ficar quieto. Xingar o Dória e xingar a China só atrapalha. Tem muita gente morrendo todo dia, perdendo a vida para uma doença que já tem vacina”. E foi emendando um argumento no outro. Reclamou da relação do clã Bolsonaro com o poder e de promessas de campanhas que não foram cumpridas, como gás e outros combustíveis baratos. Passávamos em frente ao prédio da Fiesp e, entre um farol vermelho e outro, como dizem os paulistanos, agora tanto fazia se o trânsito aumentava ou diminuía. A conversa estava boa e isso bastava. 


Reginaldo contava que havia optado pelo voto em Bolsonaro em 2018 e estava arrependido. Dizia ainda que, desde o início da pandemia, tinha se esforçado para deixar clara sua posição aos passageiros que entram no carro e conversam sobre política. Segundo ele, não há qualquer problema em rever posições e opiniões políticas. Pelo contrário, é algo simples. “Eu sou da opinião de que temos sempre que dar espaço para o novo, chance para que as pessoas que nunca estiveram no poder sejam eleitas. No caso do Bolsonaro, eu falo para você, com sinceridade, que foi uma escolha errada. De algum jeito ele trazia uma mensagem de renovação, mas era só propaganda. Agora precisamos de outra pessoa”. E nessa lógica, depois de se arrepender de escolher o candidato da arminha nas eleições presidenciais, nosso camarada votou em Guilherme Boulos para a Prefeitura de São Paulo. “Não deu, né? Ele sofreu muito com fake news. Quando ouvi aquele monte de coisa, das pessoas dizendo que ele ia autorizar invasão nos imóveis, não acreditei. E era tudo mentira mesmo, mas tem gente que acredita, infelizmente. Eu moro na periferia, região Oeste, e sei que a gente precisa de políticos que olhem para o nosso lugar. Aqui no Centro as coisas estão resolvidas, encaminhadas. Vai na quebrada para você ver, é muito problema. Vamos ver se ele se candidata a governador ano que vem”. 


Nas proximidades do Largo da Ana Rosa, enquanto um ciclista passava ao lado do carro, Reginaldo se lembrou da gestão de Fernando Haddad. “O que pegou para ele foi o ódio que as pessoas passaram a ter pelo PT. Mas fez um governo justo, a cidade ganhou muita ciclofaixa, ciclovia. Era até estranho porque eu ia para o interior e via tudo isso, e pensava, me perguntava quando que São Paulo poderia ter esse tipo de coisa”. No restante do trajeto, pouco mais de 20 minutos, até a Rua Bom Pastor, abstraí meu pensamento. Entre uma fala e outra, que enaltecia o voto consciente e o poder transformador da Educação, fui me enchendo de esperança. Ao fim dos pouco mais de 50 minutos de conversa, agradeci pelo papo. Saí do carro, percebi a garoa fraca e respirei fundo. Que assim seja, Reginaldo!

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