Fabíola Soares Ferreira
Me deparei
hoje com vários questionamentos: O tempo é algo realmente inquietante. Entre um
e outro me deparei com uma fruteira e com uma penca de bananas amadurecidas,
adormecidas nela. Ontem mesmo elas pareciam firmes e vistosas. Mas veja como o
amadurecimento pode ser revelador. O cheiro antes imperceptível, agora permeava
toda a cozinha e sala de estar. Abri o congelador para condená-las a uma
vitamina refrescante de verão, mas me peguei a observar outras ainda esquecidas
lá dentro. Questionando sobre possibilidades culinárias que a maturação do
ingrediente pudesse aprimorar seu sabor, adocicado e perfumado, fui parar na
minha infância.
As
bananadas da Tia Conceição… Chego a sentir o cheiro e o gosto do doce ainda
quente na minha boca ao fechar os olhos. Uma tradição nunca revelada, sempre
velada num segredo absoluto, que ninguém da família foi capaz de decifrar. Tia
Conceição levou seu sabor ao túmulo, e ao fazer isso, não sei se por capricho
ou por pura desatenção, tornou-se imortal. Ah sim, esse foi o efeito dela ao
nunca negar à quem a visitasse uma bela quantia daquela gostosura e ao mesmo
tempo quando lhe perguntavam a receita, respondia com pouca importância sobre 3
ingredientes já sabidos sobre a sobremesa. Não há um sequer visitante que até
hoje, ao comer uma bananada lamente não ser a da tia Conceição. Ou ao tentar
reproduzir não tenha tentado algum ingrediente diferente para chegar próximo ao
resultado esperado.
Ela não só
conseguiu atingir o grau máximo do sabor de uma bananada, mas a fórmula pela
qual será eternamente lembrada. Talvez seja esse o grande segredo de
amadurecer. A maturidade traz o equilíbrio dos sabores e dos saberes, rompe com
o tempo, pois ele já não é determinante pois a ele se destina. Fecho a porta do
congelador com a incerteza da receita perfeita, mas com a convicção do sabor do
saber que o tempo não leva.
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