terça-feira, 3 de agosto de 2021

Fé na Arte


 Ilustração Mani Ceiba

Por Mani Ceiba

“Se aceitarmos o significado de arte em função de atividades tais como

a edificação de templos e casas,

realização de pinturas e esculturas, ou tessitura de padrões,

nenhum povo existe no mundo sem arte.” (GOMBRICH, 1999, p.19).


Encantada por mitologias e estudos de civilizações, sempre levei isso para minha arte, inclusive por não ser nem ter uma criação cristã.  Para mim, as formas artísticas onde a arte se manifesta através do cotidiano dos povos são todas da mesma importância e beleza. Tenho um apreço maior pela arte dos grafismos e arte indígena, talvez por esta descendência ser forte na minha memória emocional. 

Minha compreensão e forma de viver da arte não está separada de quem eu sou. A arte faz parte de mim e não a desvinculo apenas como um trabalho remunerado. Muitas vezes essa forma de arte é rejeitada no mundo mercadológico a que estamos acostumados, a arte como maneira de ser. 


Uma arte que não é produto de mercado e sim expressão de uma atitude para com a vida, de uma forma de se portar diante da existência, atestando a sacralidade de tudo que envolve o viver (PASTRO, 2010).


A arte dos povos indígenas é isso. Na arte indígena, através da pintura corporal, etnias diversas exprimem as fases da vida de um membro (luto, doença, resguardo, rituais de transição) ou situações comunitárias como guerras, rituais religiosos. Ela é marcadora dos ritmos e tempos da vida (VIDAL, 1978). Não é arte para ser vendida ou apenas para ser bela, nem para simples deleite de quem observa ou valorização de quem a ostenta. Uma indígena que pintou o corpo de outra não assina seu nome na obra, pois a arte não é algo descolado da vida e sim, antes de tudo, é sua expressão e seus tempos demarcados pelos elementos pintados e materiais utilizados. Os colares e cestaria são belos porque a natureza é bela e a arte já está inserida nela. 

A origem para a palavra “religião” vem do latim, que significa respeito pelo sagrado. Outra etimologia que é discutida é da palavra RELIGARE, também do latim, que significa atar. Definição para arte não é tão simples mas pode-se dizer que é algo que se comunica, transcendendo a linguagem de palavras.

Desde o princípio da história da humanidade, arte e a religião estão ligadas. Nas pinturas rupestres, na suntuosidade da arte egípcia, minimalismo da arte budista, nas catedrais góticas, na busca pela luz dos iluministas. No simbolismo do próprio divino na arte muçulmana e seus arabescos geométricos perfeitos como símbolos abstratos. Nas formas de demonstração da consciência e de comunicação do que está ao redor e dentro de si mesmo, a arte faz a comunicação direta entre emissor e receptor mesmo quando sendo representativa. 

Sendo assim a própria arte não pode ser, para o artista, a sua religião? Respeito pelo aquilo que é sagrado pra si, independente de crença, nome dado para Deus ou prática e te ata a algo que é além da compreensão da lógica e racionalidade. 

Algumas filosofias orientais dizem que Deus está onde está seu coração. Se meu coração está na arte e ela me religa aquilo que tenho de mais verdadeiro e profundo, então posso não chamar de Deus ou Deusa e sim de Arte apenas, aquilo que me transforma e transmuta. Algumas antigas escolas de ocultismo e magia chamam seus estudos de a grande Arte, obras com o objetivo de descobrir a fonte da vida, ser íntegro, concentração, descobertas dos mistérios que poderiam ser os alicerces sobre os quais repousa a felicidade do homem. 

A Grande Arte?! Nossa vida pode ser uma grande Arte! 


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