Por Leandro Souto Maior
“Os jovens ingleses conseguem aprender a tocar guitarra do seu jeito, mas conseguem aprender a cantar como você?”
“Você diz jovens brancos? Oh não, você sabe disso melhor do que eu... Eles não têm a alma, nunca passaram por tempos difíceis.”
O diálogo acima foi protagonizado pelo cantor, compositor e guitarrista norte-americano Muddy Waters, um grande bluesman (músico de blues) cuja poderosa influência na música é sentida até hoje.
A palavra “blues”, antes de servir para denominar um gênero musical, era usada para definir um estado de espírito, com o sentido de tristeza. E esse novo gênero musical surgido nos Estados Unidos, no início do século XX, era uma expressão das vidas do povo negro levado para lá como escravo, que morava e trabalhava nas plantações. Era a música cantada em trabalhos coletivos, como colheita de algodão ou obras em ferrovias. Então, apesar de ter surgido nos Estados Unidos, o blues foi criado por esses africanos, vindos de regiões onde atualmente são países como Senegal, Gana ou Congo, por exemplo.
Os “jovens brancos” aos quais Muddy Waters se refere seriam artistas como Eric Clapton e os Rolling Stones. Pois foi o interesse pelo blues negro na Inglaterra branca que estabeleceu as bases da revolução do rock nos anos 1960. Quando Muddy Waters tocou guitarra elétrica na Inglaterra em 1958, os músicos mais novos logo foram atraídos pelo instrumento eletrificado. Daí em diante, grupos de blues começaram pipocar por lá, como o Cream, com Eric Clapton, e os Rolling Stones, com Mick Jagger, cantando num estilo dos vocalistas negros norte-americanos. Para Muddy Waters, porém, eles seriam incapazes de conseguir a intensidade emocional do blues original negro, a autenticidade daqueles descendentes de africanos com quem a verdade musical americana começou, um canto de liberdade na senzala da casa grande.
O mais legendário bluesman, Robert Johnson, define em seu clássico “Walking blues”: “Alguns lhe dirão que este blues atormentado é tão terrível/Mas é o pior sentimento que um homem pode jamais experimentar”.
E em cada fazenda surgiam músicos, cantores e tocadores de violão. Alguns seguiram em frente e se tornaram lendas. Felizmente, muitos desses músicos pioneiros foram descobertos por olheiros de gravadoras, e a maioria desses discos raros de 78 rotações foi relançada ao longo do tempo por colecionadores em pequenos selos, Assim, para nossa sorte, ainda é possível apreciar hoje essa notável música de nomes como Buddy Guy, B. B. King, Albert King, Freddie King, John Lee Hooker, Howling Wolf, T. Bone Walker, Bukka White, Lightnin’ Hopkins, Big Bill Broonzy, Leadbelly, Charley Patton, além dos já citados Muddy Waters e Robert Johnson.

Sem comentários:
Enviar um comentário